sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tarde de Domingo...


Imaginem uma tarde de domingo. Calçadão da beira mar, sol se pondo, vento no rosto, água de coco e paz, muita paz...

- E ae Fulano, como anda a vida?

- Grande Sicrano a quanto tempo, tudo tranqüilo, tentando levar né.

Sicrano é aquele seu velho amigo que o tempo e as “coisas da vida” levaram para longe de você.

- Rapaz, tem visto alguém da velha moçada?

- Bicho, faz tempo que não esbarro com ninguém.

Estranho como o tempo passa e a gente parece não perceber, ou sei lá, talvez não preste atenção que, com ele, vão-se alguns bons amigos, pessoas que, em determinado momento da nossa vida, pareciam ser “pra sempre”, como aqueles amigos que moravam no mesmo prédio ou na mesma rua, ou estudavam na mesma escola ou jogavam bola no mesmo parque. Companheiros inseparáveis, amigos para o que der e vier, para todas as aventuras ou noitadas intermináveis, partidas de futebol inesquecíveis ou viagens loucas. Amigos que te consolaram quando você tomou aquele chifre e que te sacanearam muito quando você ficou bêbado, dormiu na praia e acordou de cueca, te roubaram e você nem percebeu (merdas acontecem). Amigos de todas as horas e etc, etc, etc...

- Pois e cara, eu também nunca mais vi ninguém, sabe como é né, muito trabalho, muita correria.

Tenho que concordar, infelizmente a vida nos força e obriga a gastar a maior parte do tempo ocupados com atividades muitas vezes enfadonhas, poucas vezes excitantes, mas quase sempre necessárias. Acabamos, ocupados demais pra lembrar de que, todo dia tem um belo por do sol, ou o canto do roxinol, ou o simples quebrar das ondas no mar, ou o prazer de ter alguém pra amar. O dia a dia nos torna pessoas corriqueiras e a rotina em uma fiel companheira.

- É. Correria e trabalho. Já não tenho tempo pra nada. Acho que estou precisando de férias.

Férias! Puts! Precisamos de férias para descansar e recarregar as baterias. O trabalho nos traz estress e o estress nos deixa maluco. Passamos a vida toda, ou pelo menos boa parte dela, trabalhando. Juntando dinheiro, buscando o sucesso e assim, no final das contas, nossa saúde “vai pro espaço”. Então, precisamos gastar tudo o que juntamos pra cuidar da saúde para, quem sabe, viver alguns anos a mais. Que ironia não? Mas é a vida e, como já foi dito, merdas acontecem.

- Cara, nem me fale mais de trabalho, que eu já estou pra ficar maluco. Mas e ae, o coração como anda? Casado? Filhos?

- Casado. 3 filhos. E você?

- Solteiro, mas não por opção, ta difícil achar alguém que valha a pena hoje em dia.

Dizem que todo homem tem 3 grandes amores na vida. O primeiro você conhece na escola, namoro de criança que, vira e mexe, vira namoro serio e acaba em casamento. Esses casos são raros, costumo dizer que eles são almas gêmeas(pra que acredita nisso).

Restam então, duas grandes paixões. Uma delas, pode ter certeza, você vai conhecer em uma praia do nordeste, numa daquelas férias inesquecíveis, quando você ainda é um jovem irresponsável, estudante universitário, dono do mundo e da verdade. No tempo onde qualquer coisa menos que o mundo, seria como um coito interrompido. Você vai se apaixonar, amar, ir nas nuvens, dar risadas, assistir o sol nascendo com uma garrafa de vinho de cinco litros do lado e o corpo suado, fazendo amor na praia. Tudo isso em 22 dias de um “summer love” inesquecível. Você vai encarar o amor como um precipício, onde a pessoa simplesmente se joga, e reza pro chão nunca chegar(vi isso em um filme e sempre quis falar), mas porque a vida é assim, irônica, o chão chega em forma de ultimo dia de férias. Vocês se abraçam, juram amor eterno, (a distancia não pode e não vai separar um amor assim) e, um mês depois de pileque,em alguma balada você se da conta de que o melhor e seguir em frente (Merdas acontecem) e aquela loira te olhando na pista de dança significa “seguir em frente”, nem que seja só por uma noite.

É nesse momento que você se da conta de que, com Trinta e poucos anos e sozinho, você esta a procura de alguém especial, sentindo falta de um afago ou um cafuné, de um eu te amo depois do orgasmo ou ate mesmo, quem diria, daquela temerosa frase: Precisamos discutir a relação. Mas calma amigo, você ainda tem uma chance, ainda falta um grande amor!

- Pois é Fulano, você é que tem sorte. Casamento da muito trabalho.

Impressionante como o ser humano nunca esta feliz com o que tem e como a vida dos outros sempre nos parece mais legal, mais excitante. Particularmente, procuro encarar o mundo com outros olhos e, ao invés de reclamar do que me falta, exaltar o que tenho. Pode não ser muita coisa, mas é meu e assim, vou vivendo a vida, juro que vou, na paz, sempre sendo o que sou.

É aquela velha história, inclusive meio clichê, do copo d’agua, metade cheio e metade vazio. Sempre tem alguém que vai olhar e dizer, “mas que droga, um copo d’agua pela metade”, outros que dirão, “que beleza, metade cheio” e ainda, os que olharão para o copo e, indiferentes, beberão a água. Aos primeiros, meus mais sinceros pêsames. Aos segundos, sejam bem vindos ao meu mundo e aos últimos, indiferença à sua indiferença diante de um mundo ávido por mudança de atitude e de postura, afinal de contas, que homem é o homem que não faz do seu mundo, um mundo melhor?!

- Rapaz, vou indo, Prazer te reencontrar ein, manda um abraço pros teus Pais.

- Vai lá bicho, boa sorte e ate a próxima.

E assim, você vira as costas e segue seu caminho. Ou então fica lá parado, olhando seu passado devarzinho ir embora e se perder por ai. Com ele, vão as lembranças de um tempo onde tudo parecia “pra sempre”, e com a certeza de que, como disse o poeta, o “pra sempre” sempre acaba.

Nenhum comentário: