Desconheço e, de tanto desconhecer,
passei a perceber aquela pulsante necessidade de sair do ostracismo de quem vê
o mundo, sente suas pulsações inquietantes, ouve seus gemidos de dor alheia e –
simplesmente – passeia pelos seus quatro cantos indiferentes, como vento que
sopra nas velas levando a embarcação no rumo do desconhecido.
Desconheço e exatamente por isso
sufoco o desconhecido em busca da informação que tira das trevas da ignorância
o coração amargurado na escuridão do saber, amargurado pela falta de oportunidade
no horizonte chamuscado, onde a chama do isqueiro que ilumina a noite, baila
sobre a penumbra e forma as sombras que as mentes inebriadas pelo álcool e
pelas paixões veem através de seus caleidoscópios tão cheios quanto vazios de
lógica, dependendo do ângulo que se olha.
Desconheço por opção. Pra tentar
ser feliz e fugir como quem corre olhando desesperadamente pra trás, buscando o
fantasma do passado que persegue seu futuro não lhe deixando livre para
construir o novo, como se ser feliz fosse proibido, como se amar fosse pecado
pelo amor que deixou ferido para trás.
Desconheço, ora bolas. Porque desconhecer
é dádiva leve da levianidade do saber que leva e eleva para junto e para o
alto, para o hoje e para o agora, para parar o ponteiro apressado do tempo que não
para, por pura traquinagem do poeta que cantou a vida e morreu de tanto viver,
feliz.
Desconheço por mim e por você,
desconheço por eles, aqueles que escolheram conhecer e se perderam nas esquinas
obscuras de seus egos inflados de conhecimento, tantas vezes tentadoras e inúteis.
Tão inúteis quanto nocivas como uma agulha pode ser apontada para um balão de
ar cheio de amor.
Desconheço.
Desconhecer, meu jovem, é o que
sobrou do jovem que achou que seria jovem para sempre e que, diante do espelho,
encara a o que reflete incalculavelmente. Pois o que contou para conta de quem
conta a história, não foram os anos que se passaram, mas a intensidade dos
tantos e muitos momentos que tiraram e roubaram fôlego.
Desconheço o futuro, o presente é
presente de um passado cheio de notas sustenidas e sustentadas em cordas de
violas tocadas. Amor? Apenas um. Dor, apenas uma. Felicidades? Incontáveis.
Anos? Pouco importa. Culpa? Uma grande. Esperança? Futuro? Perdão? Três
pontinhos